A QUESTÃO DA
ESTRUTURA DE CAPITAL
Conforme visto
no capítulo anterior, o custo de capital médio ponderado retrata o custo de
capital próprio e de terceiros, de acordo com a proporção financiada por cada
um.
A principal
razão para estudar o custo de capital está na questão de que o valor da empresa
será maximizado quando o custo de capital da empresa estiver minimizado, ou
seja, a empresa gastará menos para financiar seus recursos.
Assim, pode-se
definir a estrutura ótima de capital como aquela que proporciona o menor custo
de capital médio ponderado, maximizando, dessa forma, o valor da empresa.
ALAVANCAGEM
A alavancagem é
o uso de ativos ou recursos com um custo fixo, a fim de aumentar os retornos
dos proprietários da empresa.
Ou ainda, a
alavancagem é o conceito que define o grau de utilização de recursos de
terceiros para aumentar as possibilidades de lucro, aumentando consequentemente
o grau de risco da operação.
Existem três tipos
básicos de alavancagem: operacional, financeira e total. A alavancagem
operacional é determinada pela relação entre as receitas de vendas da empresa e
seu LAJIR. A alavancagem financeira refere-se à relação entre o LAJIR e o lucro
por ação e a alavancagem total é determinada pela relação entre a receita de vendas
da empresa e o lucro por ação.
ALAVANCAGEM
FINANCEIRA E O SEU EFEITO
A alavancagem
financeira, é a capacidade da empresa de usar encargos financeiros fixos a fim
de maximizar os efeitos de variações no LAJIR sobre os lucros por ação da
empresa. Já define como o efeito de uma mudança no lucro por ação como resultado
de uma mudança no LAJIR.
EXEMPLO:
Uma empresa tem
um capital total de R$ 8 milhões, todo constituído por capital próprio, através
de 400.000 ações ao preço de R$ 20,00. A empresa decide terceirizar parte da
dívida da empresa, totalizando R$ 4 milhões de capital de terceiros. A taxa de
juros cobrada pelo valor é de 10% ao ano.
Supondo que a
empresa trabalhe com 03 cenários de desempenho prováveis: recessão, esperado e
expansão.
ESTRUTURA DE CAPITAL CORRENTE: SEM DÍVIDAS
RECESSÃO ESPERADO EXPANSÃO
LAJIR: R$ 500.000 / R$ 1.000.000 / R$ 1.500.000
Juros: 0 / 0 /
0
Lucro Líquido: R$ 500.000 / R$ 1.000.000 / R$ 1.500.000
ROE: 6,25% / 12,50% / 18,75%
LPA: R$ 1,25 / R$
2,50 / R$ 3,75
ESTRUTURA DE CAPITAL CORRENTE: R$ 4 MILHÕES DE
CAPITAL DE TERCEIROS
RECESSÃO ESPERADO EXPANSÃO
LAJIR: R$ 500.000 / R$ 1.000.000 / R$ 1.500.000
Juros R$ 400.000
/ R$ 400.000 / R$ 400.000
Lucro Líquido: R$
100.000 / R$ 600.000 / R$ 1.100.000
ROE: 2,50% / 15,00% / 27,50%
LPA: R$ 0,50 / R$ 3,00 / R$ 5,50
Percebe-se que o
ROE (Retorno sobre Capital) e o LPA (Lucro por ação) são relativamente maiores
com a estrutura alavancada, a partir de determinado momento, uma vez que no
cenário de recessão o montante de juros representa quase a totalidade do LAJIR.
À medida que o LAJIR vai aumentando e o montante de juros permanece o mesmo,
aumenta-se o valor do ROE e LPA, principalmente porque agora o capital próprio
é de apenas R$ 4 milhões.
ALAVANCAGEM
FINANCEIRA E O LAJIR DE EQUILÍBRIO
Conforme visto
anteriormente, percebe-se que, a partir de determinado momento, compensasse utilizar
capital de terceiros. Portanto, torna-se necessário descobrir o ponto de
equilíbrio do LAJIR, ou seja, o valor inicial de LAJIR que permita trabalhar
alavancado com maiores ganhos.
ESTRUTURA DE
CAPITAL E VALOR DA EMPRESA – PROPOSIÇÃO I DE M&M: MODELO DE PIZZA
Conforme visto
anteriormente, a estrutura de capital da empresa é definida pela quantidade de capital
próprio e capital de terceiros envolvidos na composição da empresa.
De acordo com
Modigliani e Miller (M&M), o valor da empresa independe de sua estrutura de
capital. A forma com que a empresa divide seu capital não interfere no tamanho
do ativo gerado pela empresa. Essa proposição ficou conhecida como o modelo de
Pizza de M&M, dada a ilustração de que, na verdade, a o tamanho da pizza é
igual em ambos os casos, variando apenas a forma como ela é dividida.
Porém, na
prática, o que ocorre é que o endividamento pode ser vantajoso porque a mudança
da estrutura de capital pode reduzir o imposto de renda a pagar, tornar o custo
de capital menor e aumentar o valor da empresa. Uma crítica sobre o modelo de
pizza de M&M é que os pressupostos são de mercado perfeito e ideal – sem
impostos, com ampla e perfeita divulgação de todas as informações e sem custos
de transação, o que efetivamente não
ocorre.
RISCO
OPERACIONAL E RISCO FINANCEIRO
O custo de
capital próprio pode ser dividido em duas partes: o risco operacional e o risco
financeiro. O risco operacional diz respeito às operações da empresa, ou seja,
é o risco que a empresa
corre de não
gerar receitas suficientes para cobrir seus custos operacionais. Já o risco
financeiro é o risco que a empresa corre por utilizar o capital de terceiros,
ou seja, é resultado direto da decisão de financiamento da empresa, tendo em
vista o risco existente pelo alto volume de amortizações e juros a pagar. Em
suma, é o risco de não gerar lucro suficiente para arcar com o principal e
juros dos empréstimos de terceiros. É o que os autores definem como o custo da
inadimplência ou custo de falência. Dentre outros aspectos, à medida que uma
empresa se torna mais endividada, o maior risco da empresa é assumido pelos
acionistas, os quais, por conta disso, passam a exigir um retorno mais elevado.
O BENEFÍCIO
FISCAL DO CAPITAL DE TERCEIROS
Os juros pagos a
título de empréstimo (capital de terceiros) são dedutíveis da base tributável dos
impostos sobre resultado (IRPJ e CSLL). Assim, a empresa consegue gerar uma
economia no valor de impostos a recolher.
Vale ressaltar
que, para empresas que apresentem prejuízo contábil, esse benefício não surte qualquer
efeito.
Concluindo, o
custo de capital de terceiros definitivamente torna-se mais barato do que o
custo de capital próprio para a empresa. Então, nessa lógica, seria
interessante para a empresa trabalhar sempre com capital de terceiros?
Integralmente não, até pelo alto risco financeiro incorrido nessa situação, uma
vez que ao mesmo tempo que a empresa ganha benefício fiscal com os juros, sua capacidade
de gerar lucro compromete-se com o alto montante de amortização e juros dos empréstimos.
Portanto, existe uma determinada composição que aproveita os benefícios do
baixo custo de capital de terceiros sem no entanto comprometer em demasia a
geração de lucros da empresa.
É o ponto ótimo
da estrutura de capital ou estrutura ótima de capital.
ESTRUTURA ÓTIMA
DE CAPITAL
Uma empresa
obtém a maximização de seu valor quando o custo total de capital é mínimo, ou
seja, quando o custo médio ponderado de capital é mínimo.
Conforme foi
visto anteriormente, o mix ideal de relação entre o capital próprio e capital
de terceiro é que vai possibilitar ter uma estrutura ótima de capital, tendo em
vista que terá o seu custo médio ponderado de capital mínimo. Explica bem essa
situação: “a empresa toma emprestado o ponto no qual o benefício fiscal de um
dólar adicional de capital de terceiros é exatamente igual ao custo oriundo do
aumento da probabilidade de dificuldades financeiras”.
ESTRUTURA ÓTIMA
DE CAPITAL
Assim, não seria
prudente afirmar que exista uma única intersecção que corresponderia exatamente
ao ponto ótimo da estrutura de capital. O importante nesse ponto é atentar-se
para o trade-off colocado na questão: benefício fiscal x dificuldades financeiras.
Ou seja, a empresa deve ponderar até em que ponto consegue se endividar sem
comprometer sua geração de lucro, de forma a reduzir seu custo de capital, sem
no entanto abdicar da pontualidade de seus compromissos (pagamento das
dívidas).