sábado, 9 de março de 2013

TRANSPORTES DE ESTRUTURAS.


INTRODUÇÃO


Embora seja viável a fabricação de estruturas mais simples no próprio canteiro, a situação mais comum é aquela em que a fabricação e a montagem ocorram em locais diferentes. Nestes casos as estruturas de aço deverão ser transportadas até o local da montagem após a fabricação. A matéria-prima utilizada nas estru­turas, como chapas e perfis, também depende de transporte desde a usina siderúrgica ou dis­tribuidor até a fábrica.
Desde a produção, cada peça da estrutu­ra será manipulada e transportada de um lado para outro, sendo depositada em um local, para em seguida ser deslocada novamente. Dependendo da peça e do tipo de fabricação, esse deslocamento constante ocorre inclusive dentro da fábrica. Quando os equipamentos de corte e furação, soldagem ou pintura se en­contram fixos, as peças deverão ser movidas de um local para outro até estarem concluídas. Portanto, constantemente a peça é içada, des­locada e armazenada em repetidas operações. Isto requer tempo de pessoal e equipamentos, que demandam recursos financeiros. Para a redução dos custos de produção, quanto me­nos manipulação houver, melhor.
Também no canteiro de obras é assim: enquanto se mobiliza uma equipe para a des­carga de uma carreta, não haverá montagem de peças na estrutura. Esta atividade inevitá­vel, deve ser prevista nos orçamentos. O que se deve evitar é o retrabalho, que durante a montagem pode ser uma peça montada em lo­cal errado, mas também pode significar horas perdidas em busca de uma determinada peça em uma pilha caótica de outras semelhantes. Esta desorganização pode ser causada pela falta de planejamento de transporte, que acar­retará maiores custos de montagem.
O transporte das estruturas e matérias-primas será realizado por algum meio de trans­porte, seja rodoviário, ferroviário, marítimo, aé­reo ou fluvial. Conforme o meio de transporte adotado, existirão determinadas limitações das peças da estrutura, tanto a respeito de seus pesos individuais e peso total, quanto pelas di­mensões máximas e do volume disponível.
A montagem de cada peça em seu lugar na estrutura será realizada por equipamentos de içamento como gruas e guindastes. Es­tes meios de levantamento de peças também possuem limites de capacidade de carga, que acarretam limitações no peso das peças. Além destes, os seguintes fatores podem se consti­tuir em limitações para as dimensões, pesos e volumes das peças - seja em conjunto, seja individualmente:
1.Problemas relativos ao trajeto de trans­porte, como limitações quanto a largura, altura e pesos máximos permitidos (sobre uma ponte rodoviária, por exemplo).
2.Limites impostos pelo processo de montagem ou pela disponibilidade de espaço no canteiro de obras.
3.Limitações relativas à estabilidade das peças durante o processo de montagem, seja de uma peça individualmente durante o iça­mento, seja após ocupar seu lugar na estru­tura.
4.Dimensões dos perfis comercializados.
Por estas razões ou outras derivadas destas, as peças devem ser concebidas na fase de projeto e arranjadas para o transporte, de modo a não acarretarem problemas nas fa­ses de transporte e montagem.

PLANEJAMENTO DE TRANSPORTE

O planejamento de transporte é essencial para o sucesso da obra. Obviamente, depende de disponibilidade de peças prontas na fábri­ca que possam ser enviadas à obra. Depen­de igualmente, de uma análise do trajeto e de limitações dimensionais e de peso. Portanto, pode-se enumerar o aspectos mais relevantes para o planejamento e execução do transporte das peças da estrutura:

1.Escolha da modalidade de transporte mais adequada para vencer a distância entre a fábrica e a obra. Para esta escolha devem ser analisadas a disponibilidade de meios e vias de transporte no trajeto.
2.Análise do veículo mais conveniente para o transporte, verificando-se limitações di­mensionais, capacidade de carga e rendimen­to. Define-se por rendimento a quantidade de peças transportadas por viagem ou mesmo o menor custo por tonelada transportada.
3.Definição do ritmo de embarques levan­do-se em consideração as disponibilidades de peças prontas e de espaço de armazenagem no local da montagem. Não se deve embarcar mais peças do que se consegue armazenar adequadamente na obra. As peças devem ser embarcadas para a obra de acordo com o pla­nejamento da montagem. Nos casos em que não se dispõe de área para estocagem de to­das as peças no canteiro, o transporte deverá ser programado com grande precisão. Nestes casos, excesso de embarques significaria falta de espaço na obra; atraso nos embarques sig­nificaria paralisação da montagem.
4.Análise da ordem de embarque das pe­ças em função da seqüência de montagem e da maneira de se estocarem as peças no can­teiro. Pode ser mais adequado embarcar antes um grupo de peças que serão montadas após outro grupo. Isto ocorre quando a área de ar­mazenagem é restrita e as peças serão empi­lhadas umas sobre as outras. As primeiras a serem montadas devem ficar no alto da pilha, o que é obtido embarcando-as após.
5.A disponibilidade de espaço na própria fábrica também deve ser analisada ao se ela­borar o planejamento de transporte, pois exis­tem limitações na área de armazenagem. Caso o canteiro de obras não possa receber maior quantidade de peças e a fábrica não consiga armazenar as excedentes, deverá ser criado um pátio intermediário de estocagem no traje­to. É conveniente que este entreposto fique o mais próximo possível do local da obra, para que o próprio pessoal do canteiro execute as operações de transbordo, otimizando a utiliza­ção de equipamentos e veículos de transpor­te.
6.As peças devem ser acondicionadas de modo que as mais pesadas sejam embarcadas primeiro, e as mais leves sobre aquelas. É re­comendável a utilização de caibros de madeira entre as camadas de peças, facilitando a pas­sagem de cabos ou cintas para as operações de carga e descarga.

TRANSPORTE RODOVIÁRIO

Esta é a modalidade de transporte predo­minante atualmente no Brasil, apesar das limi­tações quanto às dimensões das carrocerias e gabaritos rodoviários. A precariedade das estradas em muitas regiões é parcialmente compensada pela malha existente que permite acesso a maior parte das localidades. Sabe-se, entretanto, que somente 10% das estradas nacionais são pavimentadas.
As outras modalidades de transporte, como o marítimo ou ferroviário, dificilmente não dependerão em algum ponto do trajeto da interveniência da modalidade rodoviária. Por exemplo, no transporte marítimo, a carga de estruturas deverá chegar ao porto de origem por transporte rodoviário; e que de igual ma­neira dependerá de uma modalidade terrestre no porto de destino. Assim, dependendo da região, o transporte intermodal ocorrerá com os possíveis transbordos de um meio para o outro.
Um veículo de transporte rodoviário pos­sui a característica de poder ser transportado por outro meio de transporte, seja sobre uma balsa, seja sobre uma plataforma ferroviária, o chamado rodotrem. Isto evita as operações de carga e descarga dos transbordos, os quais além de representarem custos e prazos maio­res, provocam danos as peças da estrutura.
Outra característica do transporte rodovi­ário é a possibilidade bastante utilizada de que o mesmo veículo seja carregado no interior da fábrica e ele próprio chega a poucos metros do local onde a estrutura será montada. Isto, após vencer todo o trajeto sem transbordo da carga. Esta situação, porta a porta, só seria possível no transporte ferroviário, por exemplo, caso a fábrica de estruturas possuísse pátio ferrovi­ário e a obra estivesse ao lado de uma linha férrea interligada ao mesmo sistema.
O transporte rodoviário depende essen­cialmente de um veículo de tração mecâni­ca movido a óleo diesel e de uma carroceria acoplada ao mesmo. Nesta carroceria serão acondicionadas as peças da estrutura a serem transportadas. A carroceria poderá estar mon­tada sobre o mesmo chassi do veículo tracio­nado ou não.
Nas fases de projeto e detalhamento de­verá ser dada especial atenção as dimensões das peças de forma a se evitar transportes especiais. Caso o elemento estrutural possua comprimento acima de 12 metros, pode-se subdividi-lo deixando a execução da união en­tre as partes para o canteiro de obras.

TIPOS DE VEÍCULOS

a) Caminhão toco – Possui um eixo sim­ples na carroceria que é montada sobre o mes­mo chassis da cabina do motorista, onde se encontra o outro eixo do veículo. Possui capacidade de carga de aproximadamente 8t. As dimensões aproximadas da carroceria são:
• Comprimento: 6,9m
• Largura: 2,4m
b) Caminhão Trucado ou “truck” - Com eixo duplo na carroceria, sendo um dos dois o motriz. A carroceria é montada sobre o mesmo chassis da cabina, onde se encontra o terceiro eixo do veículo. Possui capacidade de carga de aproximadamente 15t. As dimensões aproximadas da carroceria são:
• Comprimento: 7,8m
• Largura: 2,4m
c) Cavalo mecânico com semi-reboque (carreta): composto de dois veículos distintos: o primeiro é o veículo trator ou tracionado, o cavalo mecânico, que possui normalmente dois eixos, um frontal bem abaixo da cabina, responsável pela direção do veículo e o outro eixo motriz na parte de trás. Eventualmente o chamado 3º eixo será instalado, atrás do eixo motriz. O segundo veículo é a carroceria ou semi-reboque que se apoia sobre o eixo motriz na extremidade frontal (onde existe uma arti­culação) e em três eixos traseiros em tandem, dotados de quatro rodas cada. Possui capa­cidade de carga de aproximadamente 27t. As dimensões aproximadas da carroceria são:
• Comprimento: 14,8m
• Largura: 2,5m
Estes primeiros três tipos de veículo são enquadrados naqueles chamados normais, explicitados no item pesos e dimensões máxi­mas, abaixo.
d) Bitrem: Possuem diversas configura­ções, mas basicamente são constituídos por cavalo mecânico com 3º eixo e duas carroce­rias articuladas, cada uma com 6,5m de com­primento, aproximadamente. A capacidade de carga varia, conforme a configuração, de 34t a 46t no total. Caso as peças da estrutura não ul­trapassem os 6,5m de comprimento e possua pequeno índice de vazios, o bitrem será van­tajoso sempre que o peso total transportado ultrapassar a capacidade das carretas conven­cionais. Este tipo de veículo não é considerado normal e só poderá circular com Autorização Especial de Trânsito – AET.

PESOS E DIMENSÕES MÁXIMAS

Nos veículos rodoviários existem cinco termos que definem os pesos e as capacida­des de carga:
• Lotação (L) : peso útil máximo permiti­do para o veículo; é a sua capacidade de carga;
• Tara (T) : é o peso do veículo sem car­ga, com tanque cheio e motorista;
• Peso Bruto Total (PBT) : Lotação soma da com a Tara de um veículo com cabina e carroceria em um mesmo chassi;
• Peso Bruto Total Combinado (PBTC): É a Lotação somada às Taras dos veí­culos combinados, quando a cabina está em um veículo e a(s) carroceria(s) em outro(s) chassi(s);
• Capacidade Máxima de Tração (CMT): É a capacidade de tração do veículo trator, normalmente fornecido pelo fabricante.
As capacidades máximas dos veículos são definidas pelas autoridades rodoviárias em termos de Peso Bruto Total (PBT):
• Por eixo simples;
• Por conjunto de eixos;
• Por veículo (PBT);
• Por combinação de veículos (PBTC).
Segundo a Resolução N.º 12/98 do Con­tran, as dimensões autorizadas para veículos, considerados normais, são as seguintes:
• largura máxima: 2,60m;
• altura máxima com relação ao solo: 4,40m;
• comprimento total:
• veículos simples: 14,00m - (exemplo: caminhão trucado);
• veículos articulados: 18,15m exemplo: carreta);
• veículos com reboque: 19,80m (exemplo: bitrem).
Segundo esta resolução, os limites máxi­mos de peso bruto total e peso bruto transmi­tido por eixo de veículo, nos veículos normais, são os seguintes:
Não confundir capacidade máxima de carga com peso bruto máximo por eixo. Con­siderando uma carreta dotada de terceiro eixo não em tandem, será:
Eixo dianteiro do cavalo = 6t
Conjunto de dois eixos não em tandem (2º + 3º eixo) = 15t
Conjunto de três eixos traseiros da carro­ceria (tandem) = 25,5t
Total ..............................................= 46,5t (não permitido para veículo normal cujo PBTC máximo é de 45t).
Como a Tara de um veículo destes é de 15,5t a lotação máxima permitida será de 29,5t para resultar em um PBTC de 45t. A distribui­ção da carga deve ser feita de forma a que as cargas por eixo ou conjunto de eixos não ul­trapassem os valores individualmente, nem do total de 45t.
Todas as peças de estruturas que provo­carem um excesso em um desses parâmetros serão transportadas por veículos chamados especiais. Estes veículos que por sua cons­trução excedem as dimensões normais, serão objeto de licença especial e poderão trafegar desde que estejam dentro dos limites abaixo:
• largura máxima: 3,20m;
• altura máxima com relação ao solo: 4,40m;
• comprimento total: 23,0m.
Se, ainda assim o veículo possuir dimen­sões que excedam estes novos limites, terá de obter licença especial temporária e obedecer a horários restritivos para transitar.
Todo tipo de transporte especial é mais oneroso que o transporte normal, e por isso deve ser evitado. Raras vezes não se pode to­mar alguma providência, seja no projeto, seja na fabricação, que ajude a evitar que as peças da estrutura ultrapassem os limites dos veícu­los normais. Quando for impossível dividir a peça em outras menores, teremos uma peça indivisível.